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As vanity presses foram primeiro uma novidade em Portugal, e depois uma autêntica praga aparentemente lucrativa (caso contrário não existiriam tantas) com muitas das actuais vanity a tentarem passar por editoras legítimas e, em vários casos que me chegaram, omitindo até à negociação da edição da obra o custo que tal implica para o autor ou até afirmando que os livros se editam mesmo assim no caso dos autores desconhecidos.
Ainda me lembro de informar um autor que o seu manuscrito tinha sido escolhido para edição e deste perguntar quanto tinha de nos pagar!! Enfim, há uma década fugia das edições das vanity como o Diabo da cruz, de quando em vez um autor acabava por enviar um exemplar para resenha lá no jornal e ficava sempre com a ideia de que no fruto sacrificado daquela pobre árvore constava uma obra mal escrita, mal paginada e que não tinha sido sujeita a qualquer revisão. Ou seja, a minha principal preocupação na altura era a má qualidade do produto em si.
Volvidos dez anos a tecnologia editorial avançou muito, hoje em dia quando recebo uma obra com o selo editorial de uma vanity a primeira coisa que me ocorre não é se se trata de um produto de má qualidade, o meu preconceito avançou de tal maneira que agora questiono a sanidade mental do autor que em pleno século XXI optou por gastar milhares de euros numa coisa destas em vez de numa edição de autor que lhe custaria só umas centenas de euros (ou mesmo só umas dezenas, caso já seja um autor experiente cuja obra tenha sido revista por um familiar, amigo ou conhecido). Claro, há casos em que são autores de maior idade que não dominam ainda bem as ferramentas da Internet, e nesse caso há que ser mais compreensivo.
Aos autores que têm manuscritos na gaveta ou que os viram rejeitados por editoras convencionais que não vos obrigam a pagar o preço de impressão e distribuição, leiam as próximas linhas com atenção: com um conhecimento rudimentar de Word e língua inglesa, uma ligação à Internet e algum tempo em mãos conseguem editar o vosso próprio livro sem gastarem milhares de euros das vossas poupanças ou se endividarem com um crédito ao consumo, vou dedicar alguns posts à edição de autor ao longo da semana. Até já.
A Imaginauta prolongou até dia 31 de Dezembro o prazo para o envio de contos originais para a antologia Pós-Humanos. Podem consultar o regulamento carregando aqui. A editora alerta que os autores que já submeteram contos que foram recusados, podem submeter novas narrativas sem qualquer problema.
Os editores sugerem inclusivamente alguns objectos de inspiração que exemplificam o ambiente e conceito da antologia, ora vejam:
Contem-nos histórias que desafiem o conceito do que é ser humano, ou que transcendam as limitações que a humanidade nos trás. Mostrem-nos sociedades com aumentos cibernéticos e robóticos como em Cyberpunk: 2077, Alita: Battle Angel, Deus Ex e Encarcerados; contem-nos histórias daqueles que são quase humanos ou mais que humanos, como no Blade Runner, Ancilary Justice, Carbono Alternado e Zima Blue. Biohacking, cyberpunk, nanopunk e outros que tais são conceitos a explorar.
Há muito muito tempo, descobri a saga Crónicas de Allaryia numa ida à EMI Valentim de Carvalho em Alvalade, na altura devorei a saga e entrevistei o autor para o primeiro número da uma das revistas que editei. Ontem ao bisbilhotar o que andaria a perder nas novas andanças literárias de Filipe Faria encontrei esta entrevista que é já de Setembro. Continuo a abominar as capas das reedições bem como a capa deste novo livro... mas foi com Filipe Faria que comecei a ler autores portugueses, vício que ainda não ultrapassei.
De quando em vez dou uma espreita pelas páginas de cultura dos jornais para espreitar de que livros e autores estarão a falar, o resultado é sempre desolador e já devia estar habituado - afinal quando fui editor profissional entre 2009 e 2012, o único jornal a resenhar uma obra nossa foi o Avante! e a única revista a extinta Os Meus Livros. Julgava eu, como podem comprovar no desabafo de ontem, que o blogue estava a prestar um mau serviço... mas há jornais que não falam de livros durante meses e, quando falam, focam apenas alguns dos autores mais reconhecidos da literatura ligeira.
Na altura da extintas revistas Conto Fantástico e Dagon, das quais fui editor e depois tradutor quando encerrei a editora, fazíamos um apanhado semanal de recortes de imprensa de textos que abordavam a ficção científica, o terror e a fantasia onde se incluía até a programação da Cinemateca e julguei que seria interessante recuperar algo do género aqui para o blogue. Infelizmente há muito pouco a recortar.
Compreendo cada vez mais a colaboração das editoras, grandes e pequenas, com bloggers no passado e actualmente com influencers em redes sociais como o Instagram (que abomino), o Facebook e o YouTube. Mesmo posts tão redutores onde se mencionam as novidades com a mera menção da sinopse da contracapa e com uma foto da capa tornam-se agora ferramentas extremamente úteis para a divulgação literária, dado o vazio jornalístico livreiro, talvez com a excepção do Ípsilon do Público, não sei se entretanto o panorama se alterou mas deixei de ler já há anos o Jornal de Letras e a revista LER ao constatar que incluíam mais peças de opinião genérica e política escrita por autores do que textos sobre livros, edição e autores.
Acho que hoje acordei com nostalgia por projectos como a Os Meus Livros e o Blogtailors.
Quando editava as minhas resenhas por escrito no semanário O Diabo e em jornais locais como o Tribuna das Ilhas, Fazendo ou Incentivo (estes três com redacções na ilha do Faial, de onde sou natural) a política da minha parte era simples devido à limitação de espaço impresso: se a avaliação fosse negativa não se publicava a resenha, salvo livros tão grosseiros que achasse necessário denunciar o conteúdo (normalmente não ficção mal pesquisada, e por sorte só ocorreu uma ou duas vezes).
Na altura nenhum deles dispunha de uma edição digital, lacuna que creio entretanto ter sido colmatada por todos eles. Por sorte no Pravda.ru e na Libertária não há qualquer limitação deste género sendo que as resenhas aos livros e as entrevistas com os autores são publicadas na integra nas edições digitais, e criei o blogue Livros à Mesa para as compilar num só sítio.
Sucede que à medida que nos aproximamos do fim do ano tenho que assumir que este foi o ano menos produtivo de todos em leituras e, consecutivamente, em resenhas. Devo um imenso pedido de desculpas às editoras que me enviaram dezenas de obras nas quais não consegui pegar nem divulgar, com destaque para as Presença, Zéfiro, Saída de Emergência, Antígona e Porto Editora (cujos lançamentos e promoções tenho divulgado no Facebook). Seria de esperar que estando em confinamento e em teletrabalho este teria sido o ano ideal para estar a ler 2/3 livros por semana e a entrevistar autores de enfiada, mas sempre que peguei num livro passadas algumas dezenas de páginas percebi que não estava a assimilar nada e que já nem recordava as páginas que lera.
Este foi também o ano em que estive mais activo como tradutor e editor, e devido tanto ao caos da pandemia e das eleições nos EUA como frenético comentador nas redes sociais, com destaque para o Twitter. A par disto foram-me diagnosticadas asma, sinusite e rinite que me atrapalham a respiração e que, devido à actual pandemia, me causaram uma ansiedade omnipresente e ataques de pânico por em cada crise diária, ou quase, haver sempre o receio de ser Covid-19 e não uma das três maleitas crónicas que lhe imitam os sintomas, tal é por si só exaustivo e há ainda o pormenor da sonolência causada pelos antihistamínicos.
Diria mesmo que a maior parte da divulgação literária que escrevi este ano foram obituários, e alguns de autores com os quais tivera contacto pessoal e alguma cumplicidade política... e nem os reproduzi aqui. Vou doravante apostar mais no jornalismo literário aqui no blogue, na divulgação do que tem sido editado do que nas resenhas propriamente ditas, resenhas essas que estou a tentar retomar ao ritmo de uma obra por semana, organizando um horário fixo de leitura isolado numa sala.
Quando à parte gastronómica... este ano também tive que abdicar dos restaurantes e o álcool gel já me vitimou dois telemóveis, pelo que regredi ao 3G que estava armazenado no sótão e não me permite tirar fotos de tão limitado que é (um Vodafone extremamente básico).
Às 1.200 almas que seguem este blogue no Facebook, o meu obrigado por não terem desertado. Boas leituras e boas digestões.
Uma manhã em 2009 cheguei ao escritório e tinha um email de Robert Silverberg, perguntando se a agente dele já me tinha respondido ao pedido para editar em Portugal "O Imperador e a Maula", respondi que não, aparentemente a nossa tiragem não era comercialmente apelativa. Silverberg estava ainda frustrado por uma das suas editoras em Portugal lhe ter deixado uma das sagas incompleta e, dizia ele, gostava de ser editado cá por outros editores. "Sabe que mais, não a volte a contactar, envie-me XXX€ [quantia simbólica] e assinamos nós o contrato".
Quando iniciei a colecção "Mir" comprei direitos de obras para autores premiados de ficção científica como James Patrick Kelly, David Lindsay, Robert Reed e Mary Rosenblum, além de Robert Silverberg... dado o desfalque da distribuidora só editamos o livro da Mary Rosenblum.
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